Acordo de Acionistas: Harmonia e Segurança entre as Partes
O Acordo de Acionistas é um documento essencial para garantir a harmonia e o bom funcionamento de uma empresa com vários sócios.
Ele estabelece regras claras sobre direitos, deveres, responsabilidades e a forma como decisões importantes serão tomadas.
Por isso, entender o que é, para que serve e como funciona um Acordo de Acionistas pode ser o diferencial entre investir de forma segura ou correr grandes riscos no mundo dos negócios.
O Que é Um Acordo de Acionistas
O Acordo de Acionistas é um contrato firmado entre os sócios de uma empresa, geralmente sociedades anônimas, mas que também pode ser utilizado em sociedades limitadas (nesse caso, como “acordo de quotistas”).
Ele tem como objetivo principal disciplinar direitos e deveres relacionados à convivência societária, incluindo:
- Administração da empresa,
- Votação em assembleias,
- Compra e venda de ações,
- Entrada ou saída de sócios,
- Proteção de minoritários,
- Sucessão empresarial,
- Entre outros.
Na prática, ele funciona como uma espécie de manual interno que ajuda a evitar conflitos e garante que todos os acionistas estejam alinhados quanto ao futuro da empresa.
Embasamento Legal do Acordo de Acionistas
A previsão legal do Acordo de Acionistas está na Lei das Sociedades Anônimas (Lei nº 6.404/1976), especialmente no artigo 118.
Esse artigo estabelece que o acordo deve:
- Ser feito por escrito;
- Tratar de compra e venda de ações, preferência para adquiri-las, exercício do direito de voto ou poder de controle;
- Ser arquivado na sede da companhia;
- Ter sua existência averbada no Livro de Registro de Ações Nominativas, quando envolver transferência ou oneração de ações.
Sem esses requisitos, o acordo pode até valer entre as partes, mas não terá eficácia contra terceiros nem obrigará a própria companhia a respeitá-lo.
Quem Pode Assinar um Acordo de Acionistas
Somente acionistas podem ser signatários do Acordo de Acionistas.
Isso significa que apenas pessoas físicas ou jurídicas que sejam proprietárias de ações na data da celebração podem participar.
Contratos em que sócios se comprometem com terceiros estranhos ao quadro societário não são considerados Acordos de Acionistas válidos segundo o art. 118 da LSA.
Por Que o Acordo de Acionistas é Importante
Muitos empreendedores e investidores entram em uma sociedade com entusiasmo, mas sem pensar nos possíveis problemas que podem surgir.
E eles surgem. Diferenças de visão, disputas pelo poder de decisão e divergências sobre a distribuição de lucros são apenas alguns exemplos.
O Acordo de Acionistas serve justamente para prevenir e resolver essas situações.
Além disso, ele dá segurança jurídica, já que todos os termos são formalizados e, se necessário, podem ser exigidos judicialmente.
Principais cláusulas de um Acordo de Acionistas
Embora cada empresa possa adaptar conforme suas necessidades, a Lei define os temas centrais que podem compor um acordo:
1. Compra e venda de ações
O acordo pode limitar ou organizar a circulação de ações, muito comum em sociedades anônimas fechadas.
Entre as cláusulas mais comuns estão o direito de preferência (os sócios atuais têm prioridade na compra) e o lock-up (restrição temporária para venda).
2. Exercício do direito de voto
É uma das partes mais importantes do Acordo de Acionistas.
Nele, pode-se definir:
- Como votar em assembleias,
- Ocupação de cargos no conselho,
- Obrigatoriedade de voto em bloco,
- Proteção de acionistas minoritários.
3. Poder de controle
O acordo também pode disciplinar como será exercido o poder de controle da companhia, trazendo regras para manter a estabilidade da administração.
Tipos de Acordo de Acionistas
Existem diferentes formatos de acordo, cada um com um objetivo específico. Os mais comuns são:
- Acordo de voto: regula a forma de votar em assembleias.
- Acordo de bloqueio (lock-up): impede ou limita a venda de ações por determinado período.
- Acordo de preferência: dá prioridade a sócios já existentes na compra de ações de quem deseja vender.
- Acordo de gestão: trata das regras de administração e tomada de decisão dentro da empresa.
Benefícios do Acordo de Acionistas
Ao adotar um Acordo de Acionistas, a empresa e os sócios passam a ter vantagens como:
- Prevenção de conflitos internos: os sócios sabem de antemão como agir em situações comuns.
- Segurança jurídica: cláusulas podem ser exigidas judicialmente em caso de descumprimento.
- Proteção contra terceiros: evita a entrada de pessoas indesejadas na sociedade.
- Planejamento sucessório: garante continuidade da empresa em caso de falecimento de sócios.
- Maior atratividade para investidores: empresas organizadas passam mais credibilidade.
Quem Deve Adotar um Acordo de Acionistas
Esse contrato não é exclusivo de grandes companhias.
Pequenas e médias empresas também podem (e devem) adotar o Acordo de Acionistas. Quanto mais sócios envolvidos, maior a necessidade de ter regras claras.
Mesmo em sociedades familiares, o acordo pode ser decisivo para evitar brigas que comprometam não apenas a empresa, mas também os relacionamentos pessoais.
Diferença entre Estatuto Social e Acordo de Acionistas
Muita gente confunde esses dois documentos.
O Estatuto Social é público, registrado na Junta Comercial e traz regras gerais da empresa.
Já o Acordo de Acionistas é privado, acessível apenas aos sócios que o assinam, trazendo regras mais detalhadas e estratégicas sobre convivência societária.
Enquanto o estatuto é obrigatório, o acordo é facultativo, mas altamente recomendado.
Como elaborar um Acordo de Acionistas
Elaborar um Acordo de Acionistas exige atenção, porque cada empresa tem suas particularidades. Em geral, o processo envolve:
- Reunião entre os sócios para alinhar expectativas.
- Definição das cláusulas mais importantes.
- Apoio de advogados especializados em direito societário.
- Assinatura formal de todos os acionistas envolvidos.
É importante destacar que o acordo deve ser claro, objetivo e adaptado à realidade da empresa, evitando cláusulas genéricas que não tenham aplicação prática.
Eficácia e execução do Acordo de Acionistas
Uma vez arquivado na sede da companhia e averbado quando necessário, o acordo passa a ter eficácia imediata dentro da empresa.
Inclusive, a mesa da assembleia não pode computar votos contrários ao acordo (art. 118, § 8º, da LSA).
Caso haja descumprimento, os demais sócios podem entrar com ação judicial de execução específica, obrigando o cumprimento da cláusula.
Acordo de Acionistas em sociedades limitadas
Embora a Lei 6.404/76 trate diretamente das sociedades anônimas, é comum a aplicação supletiva dessas regras para sociedades limitadas.
Nesse caso, o documento é conhecido como Acordo de Quotistas.
O Código Civil não detalha esse instrumento, mas a prática jurídica e a jurisprudência reconhecem sua validade, desde que conste no contrato social a possibilidade de aplicação supletiva da LSA.
Consequências da Ausência de um Acordo de Acionistas
Quando não existe um Acordo de Acionistas, os conflitos tendem a ser mais frequentes e, muitas vezes, chegam à Justiça.
Isso gera custos, demora e desgaste entre os sócios. Além disso, a empresa fica vulnerável a decisões inesperadas ou à entrada de pessoas sem alinhamento com os objetivos do grupo.
Portanto, a ausência desse documento pode colocar em risco a própria continuidade do negócio.
Conclusão
O Acordo de Acionistas é muito mais do que apenas um contrato.
Ele é uma ferramenta estratégica que protege o investimento, garante estabilidade na gestão e fortalece a confiança entre os sócios.
Ao criar regras claras desde o início, os empreendedores conseguem evitar desgastes futuros e manter o foco no crescimento sustentável da empresa.
Em sociedades anônimas ou limitadas, esse documento pode ser o divisor de águas entre empresas que enfrentam constantes disputas internas e aquelas que crescem de forma organizada e sustentável.
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